sábado, 15 de fevereiro de 2020

Banda Sonora de uma vida cheia de "Aventuras" e "Surpresas"


Hoje o texto que trago, na emissão sobre o dia da rádio, é um texto que escrevi há alguns anos atrás e que na realidade quase descreve aquilo que vou tentando fazer em cada emissão de "O Meu Mundo", pelo menos, no que diz respeito à música, porque no resto… não é nada a minha cena!!!
O texto chama-se Banda Sonora de uma vida cheia de "Aventuras" e "Surpresas", mas esteve mesmo para se chamar "Óstar". Depois de lerem já vão perceber porquê!
É um texto sobre uma pessoa a quem cada palavra, tema ou ideia lembravam uma música… ok… não vou contar mais. Fazem-me o favor de ler com atenção.

Banda Sonora de uma vida cheia de “Aventuras “ e “Surpresas”





Os seus amigos chamavam-lhe Óstar, isto porque uma vez, em tom de brincadeira, o seu amigo Rui lhe tinha dito que ele em vez de Óscar (o seu verdadeiro nome) se deveria chamar OSTar porque arranjava sempre uma música adequada para cada ocasião, um pouco como se estivesse a fazer, constantemente, uma banda sonora de uma vida. O trocadilho estava giro e a brincadeira acabou por pegar.

Óstar (ou melhor Óscar) era um jovem com um vasto conhecimento musical, mas acima de tudo, era uma pessoa com uma excelente memória e um enorme sentido de oportunidade, características que lhe conferiam uma facilidade inigualável em conseguir sempre lembrar-se de uma música cujo nome, tema ou letra fossem relacionados com o que se passava à sua volta, nesse preciso momento.

Era comum, os seus amigos passarem tardes, na esplanada de um qualquer café, em divertidos concursos a tentar arranjar palavras que ele não conseguisse encontrar em nenhum nome ou letra de música, sem terem sucesso (exceção feita, claro, ao seu amigo Paulo que recorria sempre ao já célebre “Desarcebispoconstantinopolizar” para tramar Óstar).

Esta faceta de Óstar foi, obviamente, crucial na profissão que ele iria acabar por escolher: locutor de rádio. E ainda na casa dos trinta anos, tornou-se o maior locutor de rádio de todos os tempos, com um programa que acumulava sucessos atrás de sucessos, e que consistia, basicamente, num primeiro instante, num telefonema de um ouvinte que em direto dizia o que estava a sentir, o que o preocupava, o que queria… enfim… só tinha que dizer uma palavra e a partir desse instante, a emissão de cerca de uma hora e meia começava, com Óstar a pôr no ar, apenas músicas relacionadas com o tema que o ouvinte tinha sugerido. O programa acabava quase por ser um concurso do ouvinte contra Óstar, mas acima de tudo era um cardápio de músicas servidas com um bom gosto inquestionável e a constante pesquisa e atualização de Óstar neste campo, faziam desta hora e meia uma autêntica estreia antecipada para muitas das músicas que se tornariam um sucesso nos próximos tempos.

É claro que para Óstar havia temas incontornáveis, como por exemplo quando lhe falavam de amor, “Love of my life” dos Queen, ou quando lhe falavam de saudade “I Miss You” dos Incubus. Mas, depois, a parte mais gira era quando as relações entre temas e palavras começavam a surgir. Era o caso da escolha que tinha feito para aquele programa sobre o Natal em que tinha incluído o “Last Christmas” dos Wham (um incontornável que era a seu ver uma das melhores canções sobre amor, ou melhor, desamor) mas tinha também incluído o “Wishlist” dos Pearl Jam que, na realidade, falava da Christmas tree, mas acima de tudo fazia a descrição de uma lista de pedidos, e isso ele relacionara com os pedidos de natal.

Com o tempo, e o sucesso do programa, Óstar foi convidado para fazer compilações sujeitas a um tema e que se tornaram em “best-sellers”. O dono da editora discográfica, nem precisava de saber qual era o tema que Óstar iria escolher, e Óstar nem se preocupava com a escolha porque o seu estado de espírito era o seu guia na escolha do tema. E cada compilação que ele fez correspondeu a uma fase da sua vida. A fase da sua grande paixão pela mulher com quem tinha casado tinha resultado numa coletânea chamada “Love”, a fase de borgas que se seguiu resultou na coletânea “Fun”, o desalento e abandono que experimentou quando a sua companheira o deixou deu azo à coletânea “Lonely”, a fase de medo e paranóia em que entrou de seguida resultaram na coletânea “Scared”, a fase de espiritualidade e religiosidade em que se viu envolvido posteriormente deram origem à coletânea “Sacred”. E, claro está, que houve lugar à coletânea “Love 2”, 3, 4, etc.

Nos últimos tempos, Óstar tinha começado a escolher músicas para a sua próxima coletânea, mas a sua atual companheira (Sara de seu nome), achava-o triste e preocupado. Por várias vezes, tinha já perguntado qual seria o nome da nova coletânea, mas ele fechava-se e, recorrendo a respostas evasivas, nunca chegava a responder.

Um dia, aproveitando o facto de Óstar ter saído para ir passear junto à falésia que ficava junto à casa deles, ela procurou e conseguiu, finalmente, encontrar um papel com as anotações das músicas para a próxima coletânea de Óstar.

No papel começou por ler entre aspas “Desarcebispoconstantinopolizar”, abaixo estava a lista das canções que tinha escolhido,

01 – Join me in Death – Him
02 – Death is not the end – Nick Cave & The Bad Seeds
03 – Tears in heaven – Eric Clapton




Sara, sem acabar de ler a lista, saiu a correr, porta fora, em direção à falésia. Chegou a tempo de ver no fundo da falésia dentro do azul do mar, uma mancha cor de laranja que parecia a T-Shirt que Óstar tinha vestido minutos atrás quando saíra.

A coletânea “Desarcebispoconstantinopolizar” foi um sucesso.




Sem comentários:

Enviar um comentário