Hoje o texto que trago, na emissão sobre o dia da rádio, é um texto que escrevi há alguns anos atrás e que na realidade quase descreve aquilo que vou tentando fazer em cada emissão de "O Meu Mundo", pelo menos, no que diz respeito à música, porque no resto… não é nada a minha cena!!!
O texto chama-se Banda Sonora de uma vida cheia de "Aventuras" e "Surpresas", mas esteve mesmo para se chamar "Óstar". Depois de lerem já vão perceber porquê!
É um texto sobre uma pessoa a quem cada palavra, tema ou ideia lembravam uma música… ok… não vou contar mais. Fazem-me o favor de ler com atenção.
Banda Sonora de uma vida cheia de “Aventuras “ e “Surpresas”
Os seus amigos chamavam-lhe
Óstar, isto porque uma vez, em tom de brincadeira, o seu amigo Rui lhe tinha
dito que ele em vez de Óscar (o seu verdadeiro nome) se deveria chamar OSTar
porque arranjava sempre uma música adequada para cada ocasião, um pouco como se
estivesse a fazer, constantemente, uma banda sonora de uma vida. O trocadilho
estava giro e a brincadeira acabou por pegar.
Óstar (ou melhor Óscar) era um
jovem com um vasto conhecimento musical, mas acima de tudo, era uma pessoa com
uma excelente memória e um enorme sentido de oportunidade, características que
lhe conferiam uma facilidade inigualável em conseguir sempre lembrar-se de uma
música cujo nome, tema ou letra fossem relacionados com o que se passava à sua
volta, nesse preciso momento.
Era comum, os seus amigos passarem tardes, na esplanada de um qualquer café, em divertidos concursos a
tentar arranjar palavras que ele não conseguisse encontrar em nenhum nome ou
letra de música, sem terem sucesso (exceção feita, claro, ao seu amigo Paulo
que recorria sempre ao já célebre “Desarcebispoconstantinopolizar” para tramar
Óstar).
Esta faceta de Óstar foi,
obviamente, crucial na profissão que ele iria acabar por escolher: locutor de
rádio. E ainda na casa dos trinta anos, tornou-se o maior locutor de rádio de
todos os tempos, com um programa que acumulava sucessos atrás de sucessos, e
que consistia, basicamente, num primeiro instante, num telefonema de um ouvinte
que em direto dizia o que estava a sentir, o que o preocupava, o que queria… enfim… só tinha que dizer uma palavra e a partir desse instante, a emissão de cerca
de uma hora e meia começava, com Óstar a pôr no ar, apenas músicas relacionadas
com o tema que o ouvinte tinha sugerido. O programa acabava quase por ser um
concurso do ouvinte contra Óstar, mas acima de tudo era um cardápio de músicas
servidas com um bom gosto inquestionável e a constante pesquisa e atualização
de Óstar neste campo, faziam desta hora e meia uma autêntica estreia antecipada
para muitas das músicas que se tornariam um sucesso nos próximos tempos.
É claro que para Óstar havia
temas incontornáveis, como por exemplo quando lhe falavam de amor, “Love of my
life” dos Queen, ou quando lhe falavam de saudade “I Miss You” dos Incubus. Mas,
depois, a parte mais gira era quando as relações entre temas e palavras
começavam a surgir. Era o caso da escolha que tinha feito para aquele programa
sobre o Natal em que tinha incluído o “Last Christmas” dos Wham (um
incontornável que era a seu ver uma das melhores canções sobre amor, ou melhor,
desamor) mas tinha também incluído o “Wishlist” dos Pearl Jam que, na realidade,
falava da Christmas tree, mas acima de tudo fazia a descrição de uma lista de
pedidos, e isso ele relacionara com os pedidos de natal.
Com o tempo, e o sucesso do
programa, Óstar foi convidado para fazer compilações sujeitas a um tema e que se
tornaram em “best-sellers”. O dono da editora discográfica, nem precisava de
saber qual era o tema que Óstar iria escolher, e Óstar nem se preocupava com a
escolha porque o seu estado de espírito era o seu guia na escolha do tema. E
cada compilação que ele fez correspondeu a uma fase da sua vida. A fase da sua
grande paixão pela mulher com quem tinha casado tinha resultado numa coletânea
chamada “Love”, a fase de borgas que se seguiu resultou na coletânea “Fun”, o
desalento e abandono que experimentou quando a sua companheira o deixou deu azo
à coletânea “Lonely”, a fase de medo e paranóia em que entrou de seguida
resultaram na coletânea “Scared”, a fase de espiritualidade e religiosidade em
que se viu envolvido posteriormente deram origem à coletânea “Sacred”. E, claro
está, que houve lugar à coletânea “Love 2” , 3, 4, etc.
Nos últimos tempos, Óstar tinha
começado a escolher músicas para a sua próxima coletânea, mas a sua atual
companheira (Sara de seu nome), achava-o triste e preocupado. Por várias vezes,
tinha já perguntado qual seria o nome da nova coletânea, mas ele fechava-se e,
recorrendo a respostas evasivas, nunca chegava a responder.
Um dia, aproveitando o facto de
Óstar ter saído para ir passear junto à falésia que ficava junto à casa deles,
ela procurou e conseguiu, finalmente, encontrar um papel com as anotações das
músicas para a próxima coletânea de Óstar.
No papel começou por ler entre
aspas “Desarcebispoconstantinopolizar”, abaixo estava a lista das canções que
tinha escolhido,
01 – Join me in Death – Him
02 – Death is not the end – Nick Cave & The Bad Seeds
03 – Tears in heaven – Eric Clapton
…
Sara, sem acabar de ler a lista,
saiu a correr, porta fora, em direção à falésia. Chegou a tempo de ver no fundo
da falésia dentro do azul do mar, uma mancha cor de laranja que parecia a T-Shirt
que Óstar tinha vestido minutos atrás quando saíra.
A coletânea
“Desarcebispoconstantinopolizar” foi um sucesso.
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