sábado, 29 de dezembro de 2018

Emissão 4 - Ano Novo

O meu mundo

Emissão 4

Ano Novo


Ano novo, vida nova!
Esta emissão debruça-se sobre alguns dos rituais e costumes praticados na noite de passagem de ano.
Os desejos que são formulados a cada uma das 12 últimas badaladas do ano que termina (faixas 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10) e as resoluções de ano novo (faixas 11, 12, 13, 14 e 15).
  
Se estiverem interessados em participar neste blog podem enviar um texto sobre uma das músicas/bandas que integraram a playlist desta emissão para o.meu.mundo.ntr@gmail.com
TEASER:
Soma e segue. Eles passam e nós vamos envelhecendo. Para descobrir o tema desta semana só ouvindo o meu mundo sábado entre as 20h30 e 21h30 na NTRadio em www.ntradio.pt

Se quiserem receber este TEASER, cerca de 1hora antes do  programa, no vosso e-mail, por favor mandem um e-mail para o.meu.mundo.ntr@gmail.com em que o assunto deve ser TEASER.

  PLAYLIST - EMISSÃO 4
  1. New Year's Day - U2
  2. Brand New Start - Haroula Rose
  3. New Begining- The Young Romans
  4. Waiting On The World To Change - John Mayer
  5. Change The World - Eric Clapton
  6. Pipes Of Peace - Paul McCartney                                      
  7. (What's So Funny 'Bout) Peace, Love And Understanding - Elvis Costello & The Attractions
  8. Don't Worry Be Happy - Bobby McFerrin
  9. Happy - Pharell Williams
10. Why Worry? - Dire Straits
11. Running - Delta Spirit
12. Breaking The Habit - Linkin Park
13.Why Don't You Get A Job - The Offspring
14. New Sensation - INXS
15. Money - Pink Floyd




Como sempre, fico à espera do vosso mundo. Por favor, enviem comentários com as vossas sugestões para músicas sobre o ANO NOVO.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

All I want for Christmas is... Christmas


Clássicas ou mais contemporâneas, tradicionais ou mais alternativas, há músicas que, na época natalícia, se repetem incessantemente e que constituem um reportório que ouvimos invariavelmente por todo o lado. E a música molda o nosso estado de espírito de uma forma incontrolável.

Sempre que ouço “All I want for Christmas is you” não consigo ficar indiferente e, de imediato, sinto vontade de cantar e dançar. O ritmo acelerado, as batidas bem marcadas, tantas vezes acompanhadas por campainhas/sinos que nos fazem lembrar as renas e o Pai Natal, despoletam em mim, uma boa disposição acrescida, quase contagiante.


Não sei se esta ou outra qualquer música, têm semelhante efeito noutras pessoas, mas o que é certo é que no Natal, seja pela música, ou pelo brilho das luzes e pelas cores características da época, de facto, encontramos na maioria das pessoas, uma predisposição para serem mais alegres, gentis, generosas, solidárias, capazes de grandes ações e feitos altruístas.

Infelizmente, é um estado temporário, com prazo de validade curto.

Ouvimos muitas vezes dizer “Natal é quando o Homem quer” ou “Natal deve ser todos os dias”.

Então porque é que o Homem não quer? Porque é que afinal não é Natal todos os dias?

“Bicho” complicado este Homem! Diz querer o que não consegue querer. Não faz o que deveria fazer.

Apesar de toda a envolvência, nem a própria época consegue viver em pleno, perdendo-se, tantas vezes, no acessório, naquilo que é secundário.

Ocupado a enfeitar a árvore de Natal, a fazer o presépio e a decorar a casa “à altura do momento”, esquece-se de olhar para além do seu ninho e pensar naqueles que apenas têm “um metro quadrado” de chão sem árvore e sem presentes, na maioria das vezes, sem comida, sem família, sem afeto.

Maravilhado com as luzes da época natalícia, e encandeado com o seu brilho, perde-se nas ruas, nas lojas, à procura do presente ideal, do presente especial, do presente necessário, do presente personalizado, do presente sonhado, do presente ...

Embrenhado na cozinha, entre filhós e rabanadas, porque Natal sem doces, não é Natal, e quere-se uma mesa farta, não dá conta do tempo a passar e quando acaba de “pôr a mesa” já as badaladas da meia-noite ditam a abertura dos presentes, que os mais pequeninos tantas vezes querem antecipar, tal é a ansiedade pela chegada do momento.

A família reúne-se, mas nem sempre em união de facto. Reúne-se no tempo e no espaço, mas nem sempre na comunhão e na partilha. Esqueceu o mais importante: estar por inteiro. Esqueceu-se de valorizar o momento: de união e não apenas de reunião.




Paula Lopes

sábado, 22 de dezembro de 2018

Emissão 3 - Natal


O meu mundo
Emissão 3
Natal
Natal- nome masculino
1. Relativo a nascimento (ex.: dentes natais).
2. Relativo ao país ou ao local em que algo ou alguém nasceu (ex.: aldeia natal; terra natal). = NATALÍCIO

3. O dia do nascimento. = NATALÍCIO
4. Dia do aniversário de um nascimento.
5. Festa que celebra o nascimento de Cristo. (Geralmente com inicial maiúscula.) = NATIVIDADE
6. Época em que se celebra esse acontecimento. (Geralmente com inicial maiúscula.)


Esta é a emissão de Natal.

Temos desde o tradicional até ao mais radical, mas afinal ninguém leva a mal. OOOOPPPSSS, isso é o carnaval, não o Natal :)
Se estiverem interessados em participar neste blog podem enviar um texto sobre uma das músicas/bandas que integraram a playlist desta emissão para o.meu.mundo.ntr@gmail.com
TEASER:
Rima com carnaval e também ninguém leva a mal.
É o tema desta semana que podem descobrir ouvindo o meu mundo sábado pelas 20h30 na NTR em www.ntradio.pt

Se quiserem receber este TEASER, cerca de 1hora antes do  programa, no vosso e-mail, por favor mandem um e-mail para o.meu.mundo.ntr@gmail.com em que o assunto deve ser TEASER.

  PLAYLIST - EMISSÃO 3
  1. Wishlist - Pearl Jam
  2. Santa Baby - Everclear 
  3. Christmas Everyday - Simple Plan
  4. Merry Christmas (I don't want to fight tonight) - Ramones
  5. The Christmas Song - Weezer 
  6. Christmas Song - Dave Matthews Band 
  7. Alone This Holiday - The Used
  8. All I Want For Christmas Is You - My Chemical Romance
  9. Nothing For Christmas - New Found Glory
10. Shake Up Christmas - Train
11. Christmas By The Phone - Good Charlotte
12. Fairy Tale Of New York - The Pogues
13. Deck The Halls - Relient K
14. Christmas Lights - Coldplay
15. River - Travis
16. She Came Home For Christmas - Mew
17. We Wish You A Merry Christmas - Weezer


LINK PARA A PLAYLIST NO SPOTIFY:  https://open.spotify.com/playlist/1Lg2eUgJLQskcxzq3nq22t 

Como sempre, fico à espera do vosso mundo. Por favor, enviem comentários com as vossas sugestões para músicas sobre o NATAL.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O Beijo como tema ou alegoria numa canção, ou a importância das letras

Num tema em que a parte instrumental esteja casada com uma letra qual assume o papel preponderante? As duas são igualmente importantes. Será a resposta fácil para não nos determos sobre o assunto. Mas é que ele há casamentos, relacionamentos, amizades coloridas e quiçá “one night stands”. E nestes também as duas partes são importantes. Mas há aquela cena do macho alfa, da mulher dominadora e a coisa fica confusa.  Nos meus tempos de juventude a música que eu ouvia era sobretudo cantada em inglês. E confesso-vos: não entendia patavina. Talvez um refrão, uma ou outra expressão, mas bastava perguntar-me qual era o tema da peça e eu, se não inventasse, não me safava. Felizmente ninguém me fazia perguntas tolas. Assim só lá mais para diante, quando comecei a usar esta língua como ferramenta de trabalho e o ouvido ficou suficientemente educado para dar respostas com sentido aos nativos daquela, é que comecei a entrar nas falas das músicas. Percebi então que tinha perdido uma biblioteca inteira, em “podcast” digamos, e quando o Dylan ganhou o Nobel da literatura, pensei se faria sentido procurar canções com letras de Shakespeare, para pôr lá em casa ao lado dos clássicos. A dado passo neste processo começaram a assaltar-me dúvidas filosóficas. Então e se eu estava a dar o meu “like” a uma baboseira qualquer quando era apenas a componente puramente musical que me dava gozo e o canto era apenas mais um instrumento (há um momento, passada a infância jurássica e a adolescência inferior, em que a malta recomeça a fazer perguntas). É certo que há quem diga que vozes expressivas, com intensidade e intenção, não enganam. Hum… já ouvi muita declaração persuasiva que me provocava uma súbita vontade de dizer “estás-me a dar música”. A vida é muito complicada.

Aprofundemos o assunto. Acompanhem-me por favor neste exercício despretensioso: pegamos na “playlist” dedicada ao beijo de “O Meu Mundo” e venham comigo espreitar as letras.


Começamos com Kiss de Prince & The Revolution (https://www.azlyrics.com/lyrics/prince/kiss.html) .  Uma letra com palavras que conduzem direito ao assunto, - You don't have to be beautiful / To turn me on -  servidas com um apuro instrumental fora do comum. Prince não era de rodeios, mas era elegante. O título declara o objetivo subentendido e, de maneira direta, caminha para ele. Ain't no particular sign I'm more compatible with / I just want your extra time and your / Kiss. Este é o beijo “Alinhas? Não sou nada de deitar fora.” Oh oh (diria eu também).



Com os The Cure, em Mint Car (https://www.azlyrics.com/lyrics/cure/mintcar.html),temos o beijo “Estou-me a sentir porreiro, ganda dia, dá-me um beijinho”. The sun is up / I'm so happy I could scream. Desde quando é que acordar cedo é motivo de euforia? It's all I ever wanted / Oh I almost can't believe that it's for real, so pinch me quick / Etc, etc… Só se for pelo beijinho… vá, belisca-o. Os The Cure a fazer figura de adolescentes retardados.  Letra um tudo nada apatetada.


Kid Rock com First Kiss (https://www.azlyrics.com/lyrics/kidrock/firstkiss.html). Grande letra na modalidade adolescente. Grande beijo, tipo “Todos os outros são cópias. Quero o original outra vez”. Fala de coisas ainda novinhas em folha, que são apenas o que são, como aquele primeiro carro, como a música que queríamos que os outros ouvissem, como aquele sentimento de inocência, de página em branco com tudo por escrever e em que a primeira palavra podia ser beijo. É uma rockalhada, mas era capaz de a ouvir “over and over again”.

Com Best Day Of My Life (https://www.azlyrics.com/lyrics/americanauthors/bestdayofmylife.html), dos American Authors, e deparamo-nos com uma letra um tanto ou quanto esquisita. À primeira vista parece uma versão melhorada da letra dos The Cure. Mas vejamos: o personagem central está a sonhar, salta que se farta, mas dançou com monstros, topam? E pede para não o acordarem. Mas assim como é que este vai ser o melhor dia da vida dele? Queres ver que só em sonhos? E não é que mesmo assim dá para fazer o melhor dia de uma vida! We danced with monsters through the night / …/ I'm never gonna look back / Woah, never gonna give it up / No, please don't wake me now / This is gonna be the best day of my life.


Na letra de Steal My Kisses (https://www.azlyrics.com/lyrics/benharper/stealmykisses.html) de  Ben Harper & The Innocent Criminals de novo a beleza das palavras simples. Com grande economia destas impera o amor fugidio, a perseguição amorosa. Uma economia de beijos, apenas os suficientes para manter o ansioso amor pendurado. She said I love the way you think, but I hate the way you act / … / 'Cause I always have to steal my kisses from you.

Com Lips Like Sugar (https://www.azlyrics.com/lyrics/echothebunnymen/lipslikesugar.html) dos Echo & The Bunnymen visitamos os beijos eternamente fugidios, como bolas de sabão, logo ali desfeitos, busca e insatisfação incessante, eternamente deslizante, para além, sempre mais além, mas com a graça de um cisne. She floats like a swan / Grace on the water / … / You'll flow down her river / But you'll never give her / Lips like sugar. Sabemos, de verdade sabemos, que tinham de ser açucarados.


Com Kiss Me (https://www.azlyrics.com/lyrics/sixpencenonethericher/kissme.html) dos Six Pence None The Richers vem o beijo noturno, romântico.  Nada de complicado, de braço dado com a natureza, nada de dramas, Fresquíssimo. Kiss me out of the bearded barley / … / Oh, kiss me beneath the milky twilight / So kiss me.

Chega Stephen Tin Tin Duffy e trouxe Kiss Me (https://genius.com/Stephen-duffy-kiss-me-1985-lyrics). Aqui o meu inglês vacilou. Deu-me com uma meia na vista? She gave me laughter and hope / And a sock in the eye. E isto merece um beijo? Não há aqui um abuso alcoólico? Your love is better than wine / But wine is all I have.  E a cena do descalço na neve para fazer amor no feno?

Barefoot in the snow to make love in the hay / … / Now I can feel you in my arms / I explode inside your kiss.

Agora que te tenho nos meus braços expludo dentro do teu beijo. Ah! afinal era para chegar a isto… ok ok!

Consta que a letra foi escrita nas 24 horas que se seguiram à assinatura da banda pela WEA Records. Não nos espantemos, portanto. Depressa e bem não há quem.

A letra de Seal em Kiss From A Rose (https://www.azlyrics.com/lyrics/seal/kissfromarose.html) enquadra-se no capítulo do beijo mistério. A canção editada em 1994 faz parte da banda sonora do filme Batman Forever de 1995. Isto permite interpretações que ligam o sentido da letra ao personagem do filme. E outras, que lêem a letra como a de um naufrago que, perdido na vida cinzenta, vê a luz no Amor. O cinzento resultaria da mistura do negro, que representa o eterno luto pela morte dos pais, e o branco, a Dra. Chase Meridien, claro. Comecem com Batman sendo a torre cinzenta e vão lendo. Finalmente a bênção assume a forma de um beijo da rosa no cinzento. Ah pois… também pode ter aquela leitura literal e um bocado óbvia de que tem a ver com a viciação em químicos estranhos. Mas a beleza da coisa de certo modo resulta destes diferentes planos que se cruzam e onde cada procura a leitura que responde aos cuidados da sua vida e pensamento. Tal como nos grandes filmes e nas grandes religiões. Interessante.


Kissing A Fool  de George Michael (https://www.azlyrics.com/lyrics/georgemichael/kissingafool.html) é enunciado como um aviso: não tentem desviar um amante do seu sentimento amoroso mesmo que o considerem lélé da cuca. People / You can never change the way they feel / Better let them do just what they will / For they will. Para os que estão exteriores ao sentimento amoroso tanto será então lélé da cuca o que persiste nele apesar de traído como o que trai desprezando o “true love” do outro. But remember this / Every other kiss /
That you ever give / … / I will wait for you / Like I always do. Conhecendo o George Michael como vocês conhecem, isto é o tipo de letra que se identifica com o cantante, ou seja, cria-se um contexto em que as palavras adquirem uma ressonância que as ultrapassa. Dava um fado.

French Kiss e apropriadamente, The Teenagers (https://genius.com/The-teenagers-french-kiss-lyrics) . Aqui temos, “naif” e adolescente, o típico plano de campanha. Objetivo: um beijo bem enrolado. Terreno de batalha: a festa do melhor amigo. We're at your best friend's party. Tática: desgaste físico (4 da manhã hey!), e emocional, tudo lubrificado pela generosa utilização de líquidos. God, it's already 4 a.m / And we're getting tired. Isto não é uma letra, é uma receita. E quem ainda não experimentou talvez tenha perdido alguma coisa. Mas cuidado, há o risco de interpretações deslocadas.


A letra de French Kissing In The U.S.A ( https://www.azlyrics.com/lyrics/blondie/frenchkissin.html ), na voz nítida e afirmativa da Debbie Harry é um hino ao beijo erótico, carnal, explícito e simultaneamente velado, Slip in to the velvet glove / Parted lips so filled with love, jogando em significados simultâneos, língua falada, língua na boca e literalmente, se quiserem, por aí fora, ajustando a designação francesa com a interpretação americana. Take you lover by the hand, speak in tongues and understand / French kissin' in the USA. Excelente. Pena a Debbie Harry – a última vez que a vi - ser já mais memória que presença.

Com Wish You Were Here dos Pink Floyd (https://www.azlyrics.com/lyrics/pinkfloyd/wishyouwerehere.html) fiquei perplexo, o que me acontece com frequência. Onde está o beijo? Ausente. Há na letra uma dúvida persistente sobre o entendimento do mundo, uma angústia perante a solidão essencial de cada um de nós. E um olhar para o Outro, na esperança de, no Outro, apaziguar o medo da existência. So, so you think you can tell Heaven from Hell, blue skies from pain / Did you exchange / A walk-on part in the war for a lead role in a cage? /

The same old fears / Wish you were here. Perfeita.
 


Temos com Last Kiss dos Pearl Jam (https://www.azlyrics.com/lyrics/pearljam/lastkiss.html) o beijo tragicamente derradeiro. A letra está bem carpinteirada. Um tipo sai com o carro, leva a miúda e zás… esbarronda-se contra outro e a miúda fina-se. Mas há ainda tempo para um last kiss. Eh pá emocionei-me. Mas fora de gozos, acho que temos uma letra eficaz, direta, uma história, e a ser verdade, a situação era chata. Problema: isto estava mesmo a jeito para uma campanha da Prevenção Rodoviária.





 
Com Goobye Kiss de Kasabian (https://www.azlyrics.com/lyrics/kasabian/goodbyekiss.html) estamos perante uma interpretação do beijo que sela o desencontro, o último beijo, desde logo prometido no primeiro. Doomed from the start / We met with a goodbye kiss. Uma força centrífuga, o mundo rock, atrai o personagem da canção para outras sendas, para outros dias, para fugir a um silêncio instalado.

Maybe the days we had are gone, living in silence for too long. E no entanto … I hope someday we’ll meet again. Vamos lá ver se ela não tem já com dois filhos e grávida do terceiro… É uma letra que de qualquer modo ilustra a limitação do amor que não ultrapassa o instante que foi perfeito, aquele em que se julga que já se teve tudo. Depois disso é claro que nos aborrecemos. Ok é preciso continuar.


Que pensar então deste olhar ligeiro sobre a amostra que examinámos, versando algumas declinações do beijo? Salta à vista que frequentemente as letras são inócuas, se não mesmo idiotas. E, no entanto, gosto de algumas. Quando ouço uma canção raramente sigo a letra linha a linha com aqui as lemos. Por vezes fixo uma frase num dado ponto da canção e registo o modo de a dizer, a força, a musicalidade daquele pedaço. A voz acaba por ser o instrumento muitas vezes de um som (as palavras) cuja articulação com outras (a letra) perde importância face ao caracter instrumental daquela. Numa canção as palavras mesmo se isoladas têm um poder evocador de contextos individuais que se desligam do sentido literal da frase literária. O sentido total da letra carece de tempo e – horror – por vezes de silêncio para ser apreendida

Só uma boa canção vence o tempo. É afinal neste confronto entre o discurso instrumental - voz incluída - e um acréscimo de leitura dado pelas palavras que as possibilidades mutuamente se fecundam e se enriquecem. Definitivamente: it takes all kinds to make this world go around.


 João Lourenço

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sábado, 15 de dezembro de 2018

Emissão 2 - O Beijo

O meu mundo


Emissão 2

O Beijo

Beijo - nome masculino
1.pressão ligeira dos lábios, acompanhada de leve sucção, feita sobre uma parte do corpo de outra pessoa, como cumprimento ou como sinal de afeto, amizade, amor, desejo, etc.
2.contacto ligeiro dos lábios com algo ou alguém, feito como sinal de respeito, devoção, etc.
3.fórmula íntima de despedida, utilizada sobretudo em correspondência
-Citação de “A infopédia- dicionários da língua portuguesa”

Esta emissão é dedicada inteiramente ao beijo.
Falámos do beijo, o primeiro, o saboroso, o açucarado, o roubado, o molhado, o último e o do Adeus.

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TEASER:
Com ou sem barulho, todos queremos. Com música ainda melhor!
Para descobrir o tema desta semana só ouvindo o meu mundo sábado entre as 20h30 e 21h30 na NTRadio em www.ntradio.pt

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  PLAYLIST - EMISSÃO 2                                                      
  1. Kiss - Prince & The Revolution  
  2. Mint Car - The Cure
  3. First Kiss- Kid Rock
  4. Best Day Of My Life - American Authors
  5. Steal My Kisses - Ben Harper & The Innocent Criminals
  6. Lips Like Sugar - Echo & The Bunnymen 
  7. Kiss Me- Six Pence None The Richers
  8. Kiss Me - Stephen Tin Tin Duffy
  9. Kiss From A Rose - Seal
10. Kissing A Fool - George Michael
11. French Kiss - The Teenagers
12. French Kissing In The U.S.A - Debbie Harry
13.Wish You Were Here- Pink Floyd
14. Last Kiss- Pearl Jam
15. Goodbye Kiss - Kasabian




Como sempre, fico à espera do vosso mundo. Por favor, enviem comentários com as vossas sugestões para músicas sobre O BEIJO.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Mother - Pink Floyd


Pinkney "Pink" Anderson e Floyd Council, músicos de blues norte-americanos emprestaram os seus nomes a uma das bandas mais icónicas de sempre. The Pink Floyd Sound, um dos nomes iniciais da banda, haveria de dar lugar apenas a The Pink Floyd e, mais tarde, simplesmente Pink Floyd. O “Sound” caiu, mas o som, que se iniciou em 1964, permaneceu e continuará a perdurar. Guiados inicialmente por um genial, mas também errático e esquizofrénico Syd Barrett nos caminhos do psicadelismo e underground londrino, o grupo evoluiu para texturas sonoras enquadráveis no chamado rock progressivo ou dos seus cambiantes após a sua saída. A readaptação da banda com a formação clássica Nick Mason, Richard Wright e as figuras dominantes Roger Waters e David Gilmour, haveria de lhes trazer um sucesso planetário. 
Entrei no universo Pink Floyd, como muitos outros da minha geração, pelos meus 10 ou 11 anos quando ouvi na rádio “Another brick in the Wall, Part 2 ” do álbum The Wall (1979), ainda sem saber o significado que a música encerra.


Mais tarde apercebi-me da densidade musical e das palavras que a banda transmite, que me fez prender e embarcar numa viagem que ainda perdura nos dias de hoje. Os Pink Floyd conseguem, como poucos, através da melodia, do ritmo e das cores da composição musical, criar ambientes e acrescentar ao conteúdo lírico algo que dificilmente se conseguiria obter recorrendo somente às palavras. Composições ora curtas ora longas (algumas épicas e incandescentes), harmonia e melodias ora simples ora complexas, apuramento estético e sonoro, sofisticação, liberdade criativa e experimentação com a exploração das possibilidades do som, solos extensos a demonstrar o virtuosismo dos músicos, álbuns conceptuais e letras que convidam à introspeção e à reflexão sobre a condição humana, conduzem-nos numa experiência imersiva única, argumentos mais do que suficientes para dar a viagem por bem empregue.
A obra retratada no álbum que me fez introduzir na banda descreve a vida traumatizada de Pink desde a sua infância até se tornar uma estrela de rock. Pink não é mais do que um alter-ego de Roger Waters, que o usa para exorcizar muitos dos seus fantasmas. Os traumas encontram-se simbolizados pelos tijolos que vão formando progressivamente um muro que o separa da realidade do mundo que o rodeia, provocando alienação e um isolamento dentro de si mesmo. Um dos tijolos relaciona-se com a atitude superprotectora da mãe e isso leva-nos a ouvir “Mother”, uma das mais belas e densas canções da banda. Trata-se de um dueto de vozes entre um Pink inseguro e atormentado (Roger Waters) e a sua mãe (David Gilmour). O filho pergunta à mãe se ela o protege, se ele será capaz de se proteger, se terá de construir um muro, impondo um limite físico ao seu eu. As respostas são contraditórias e enigmáticas. Mostram uma mãe muito protectora, que aprisiona, fomenta medos e inseguranças que o isolam da exploração do mundo exterior e o tornam cada vez mais dependente dela. Isso contribui para que o muro vá crescendo, tornando-se mais alto do que o próprio imaginaria. Nesse sentido, “Mother” acaba por poder ser entendida como uma metáfora para a vivência numa sociedade opressora e castradora da individualidade de cada um. O verso final, onde Pink pergunta se o muro não está já demasiado alto demonstra, no entanto, que este está ciente da sujeição em que se encontra, primeiro passo para que se possa libertar. No fundo, parece querer dizer-nos que quem é demasiado oprimido e protegido, vivendo por vezes num estado latente de entorpecimento confortável (“Confortably Numb”, outra das músicas icónicas do álbum), acaba por perceber que, por mais tijolos que tenham sido colocados (“Another brick in the Wall”), estará na altura de derrubar o muro.

Paulo Mendes

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