Pinkney "Pink" Anderson e Floyd Council, músicos de blues norte-americanos emprestaram os seus nomes a uma das bandas mais icónicas de sempre. The Pink Floyd Sound, um dos nomes iniciais da banda, haveria de dar lugar apenas a The Pink Floyd e, mais tarde, simplesmente Pink Floyd. O “Sound” caiu, mas o som, que se iniciou em 1964, permaneceu e continuará a perdurar. Guiados inicialmente por um genial, mas também errático e esquizofrénico Syd Barrett nos caminhos do psicadelismo e underground londrino, o grupo evoluiu para texturas sonoras enquadráveis no chamado rock progressivo ou dos seus cambiantes após a sua saída. A readaptação da banda com a formação clássica Nick Mason, Richard Wright e as figuras dominantes Roger Waters e David Gilmour, haveria de lhes trazer um sucesso planetário.
Entrei
no universo Pink Floyd, como muitos
outros da minha geração, pelos meus 10 ou 11 anos quando ouvi na rádio “Another
brick in the Wall, Part 2 ” do álbum The Wall (1979), ainda sem saber o significado que a música
encerra.
Mais tarde apercebi-me da densidade musical e das palavras que a banda
transmite, que me fez prender e embarcar numa viagem que ainda perdura nos dias
de hoje. Os Pink Floyd conseguem, como poucos, através da melodia, do ritmo e
das cores da composição musical, criar ambientes e acrescentar ao conteúdo
lírico algo que dificilmente se conseguiria obter recorrendo somente às
palavras. Composições ora curtas ora longas (algumas épicas e incandescentes),
harmonia e melodias ora simples ora complexas, apuramento estético e sonoro,
sofisticação, liberdade criativa e experimentação com a exploração das
possibilidades do som, solos extensos a demonstrar o virtuosismo dos músicos,
álbuns conceptuais e letras que convidam à introspeção e à reflexão sobre a
condição humana, conduzem-nos numa experiência imersiva única, argumentos mais
do que suficientes para dar a viagem por bem empregue.
A
obra retratada no álbum que me fez introduzir na banda descreve a vida
traumatizada de Pink desde a sua infância até se tornar uma estrela de rock. Pink
não é mais do que um alter-ego de Roger Waters, que o usa para exorcizar muitos
dos seus fantasmas. Os traumas encontram-se simbolizados pelos tijolos que vão
formando progressivamente um muro que o separa da realidade do mundo que o
rodeia, provocando alienação e um isolamento dentro de si mesmo. Um dos tijolos
relaciona-se com a atitude superprotectora da mãe e isso leva-nos a ouvir “Mother”,
uma das mais belas e densas canções da banda. Trata-se de um dueto de vozes entre um
Pink inseguro e atormentado (Roger Waters) e a sua mãe (David Gilmour). O filho
pergunta à mãe se ela o protege, se ele será capaz de se proteger, se terá de
construir um muro, impondo um limite físico ao seu eu. As respostas são
contraditórias e enigmáticas. Mostram uma mãe muito protectora, que aprisiona,
fomenta medos e inseguranças que o isolam da exploração do mundo exterior e o
tornam cada vez mais dependente dela. Isso contribui para que o muro vá
crescendo, tornando-se mais alto do que o próprio imaginaria. Nesse sentido, “Mother”
acaba por poder ser entendida como uma metáfora para a vivência numa sociedade
opressora e castradora da individualidade de cada um. O verso final, onde Pink
pergunta se o muro não está já demasiado alto demonstra, no entanto, que este
está ciente da sujeição em que se encontra, primeiro passo para que se possa
libertar. No fundo, parece querer dizer-nos que quem é demasiado oprimido e
protegido, vivendo por vezes num estado latente de entorpecimento confortável (“Confortably
Numb”, outra das músicas icónicas do álbum), acaba por perceber que, por
mais tijolos que tenham sido colocados (“Another brick in the Wall”), estará
na altura de derrubar o muro.
Paulo Mendes
Se estiverem interessados em participar neste blog podem enviar um texto sobre uma das músicas/bandas que integraram a playlist desta emissão para o.meu.mundo.ntr@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário