segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Ohm Sweet Ohm


E com a precisão que me permitiam os meus 10 anos, coloquei a última gota de tartarato de sódio na superfície da fita de cassete. Já tinha colocado, anteriormente, uma gota azulada de sulfato de cobre 1cm ao lado e outra de cloreto de potássio, afastada também cerca de 1cm.

Todo animado com a experiência, deixei as gotas secarem ao ar, enquanto esperava que o meu irmão regressasse a casa, vindo da escola.
Mas não consegui esperar muito. Depressa coloquei a cassete no gravador de cassetes e comecei a tentar ouvir os sons que produziam aqueles produtos químicos ao passar pela cabeça do velhinho "toca-cassetes" que os pais tinham dado.
Quando finalmente o meu irmão chegou a casa, já o velho aparelho tinha sofrido com a passagem de tanta porcaria na cabeça de leitura. Felizmente era um aparelho robusto e capaz de aguentar todas as experiências que um jovem aprendiz, de químico e músico, inconsciente, realizava.
O culpado de tudo isto era o meu irmão, que na sua sapiência de mano mais velho 4 anos do que eu, me tinha convencido que os sons estranhíssimos que aquela banda que eu tanto gostava, mas que mal sabia pronunciar o nome, eram produzidos por cassetes alteradas com gotas de produtos químicos e que, diferentes produtos químicos produziam sons diferentes. A ideia era louca, mas muito original, genial mesmo, diria eu, mas não era bem assim. Mas foi com este ambiente que cresci e não o trocava por nada deste mundo. Obrigado, mano, por me despertares tanta curiosidade e me encheres com tanta vontade de aprender.
Na realidade, os verdadeiros culpados, eram os Kraftwerk, a tal banda que me enchia o ouvido com sons eletrónicos perfeitamente novos e nunca por mim ouvidos. O álbum tinha sido trazido lá para casa, pelo meu pai, que era ele também uma pessoa muito à frente do seu tempo e sempre pronta para ouvir coisas novas. Chamava-se Radio Activity e era datado de 1975 este álbum.

Não sendo o primeiro álbum dos Kraftwerk, cujo nome é a designação de uma central elétrica em alemão, viria a ser um álbum seminal para o meu desenvolvimento musical e de toda uma geração, e uma área musical hoje em dia muito em voga, que é a música eletrónica. Ralf Hütter  e Florian Schneider os fundadores dos Kraftwerk, são mesmo chamados de pais da música eletrónica.
Em 1975, a estes dois músicos, juntaram-se Karl Bartos e Wolfgang Flür, que tocavam percurssão eletrónica e vieram consolidar o som inovador da banda. Foi esta a formação mais estável e criadora desta banda, sendo da sua responsabilidade os álbuns Radio Activity, Trans-Europe express, e o lendário Man-Machine que fazia o advento da humanidade robótica.
Como curiosidade sobre a banda, deixo ficar o facto que em 1990 um músico e produtor Português integrou os Kraftwerk. Fernando Abrantes, pertenceu aos Kraftwerk, mas infelizmente saiu nos finais de 1991, devido a divergências com um dos co-fundadores da banda Ralf Hütter.
Ohm sweet Ohm, que ouvimos na emissão 10 do meu mundo, no programa sobre o Lar e a Casa, é um tema cujo nome, é por si só, um trocadilho muito engraçado entre home sweet home e algo muito mais eletrónico. O tema baseia-se num crescendo instrumental e é complementado por uma melodia muito bem conseguida, em que toda a genialidade e inovação dos Kraftwerk, enquanto músicos, é demonstrada.
A mim, o que me impressionou mais, foi a percurssão eletrónica, que na altura era algo que não se ouvia. Na realidade vim a saber depois, que muito daquele som era “inventado”  por Flür que, segundo rezam as histórias, era também o criador de muitos dos equipamentos de estúdio e de palco do grupo, criados no estúdio Kling Klang (em Dusseldorf), pertença dos Kraftwerk.

Para ouvir também ficam as obras mais emblemáticas, Autobahn, Radio-Activity, Trans Europe Express, Man Machine e Computer World.
 
Carlos Lopes

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