E com a precisão que me permitiam os meus 10 anos, coloquei
a última gota de tartarato de sódio na superfície da fita de cassete. Já tinha
colocado, anteriormente, uma gota azulada de sulfato de cobre 1cm ao lado e outra de cloreto de
potássio, afastada também cerca de 1cm.
Todo animado com a experiência, deixei as gotas secarem ao ar, enquanto esperava que o meu irmão regressasse a casa, vindo da escola.
Mas não consegui esperar muito. Depressa coloquei a cassete no gravador de cassetes e comecei a tentar ouvir os sons que
produziam aqueles produtos químicos ao passar pela cabeça do velhinho "toca-cassetes"
que os pais tinham dado.
Quando finalmente o meu irmão chegou a casa, já o velho
aparelho tinha sofrido com a passagem de tanta porcaria na cabeça de leitura. Felizmente era um aparelho robusto e capaz de aguentar todas as experiências
que um jovem aprendiz, de químico e músico, inconsciente, realizava.
O culpado de tudo isto era o meu irmão, que na sua sapiência
de mano mais velho 4 anos do que eu, me tinha convencido que os sons estranhíssimos
que aquela banda que eu tanto gostava, mas que mal sabia pronunciar o nome,
eram produzidos por cassetes alteradas com gotas de produtos químicos e que,
diferentes produtos químicos produziam sons diferentes. A ideia era louca, mas
muito original, genial mesmo, diria eu, mas não era bem assim. Mas foi com este ambiente que cresci e não o
trocava por nada deste mundo. Obrigado, mano, por me despertares tanta
curiosidade e me encheres com tanta vontade de aprender.
Na realidade, os verdadeiros culpados, eram os
Kraftwerk, a tal banda que me enchia o ouvido com sons eletrónicos
perfeitamente novos e nunca por mim ouvidos. O álbum tinha sido trazido lá para
casa, pelo meu pai, que era ele também uma pessoa muito à frente do seu tempo e
sempre pronta para ouvir coisas novas. Chamava-se Radio Activity e era datado
de 1975 este álbum.
Não sendo o primeiro álbum dos Kraftwerk, cujo nome é a
designação de uma central elétrica em alemão, viria a ser um álbum seminal
para o meu desenvolvimento musical e de toda uma geração, e uma área musical hoje em dia muito em voga, que é a música eletrónica. Ralf
Hütter e Florian Schneider os fundadores dos Kraftwerk, são mesmo
chamados de pais da música eletrónica.
Em 1975, a estes dois músicos, juntaram-se Karl Bartos e Wolfgang
Flür, que tocavam percurssão eletrónica e vieram consolidar o som inovador da banda. Foi esta a formação mais estável e criadora desta banda, sendo da sua
responsabilidade os álbuns Radio Activity, Trans-Europe express, e o lendário
Man-Machine que fazia o advento da humanidade robótica.
Como curiosidade sobre a banda, deixo ficar o facto que em
1990 um músico e produtor Português integrou os Kraftwerk. Fernando
Abrantes, pertenceu aos Kraftwerk, mas infelizmente saiu nos finais de 1991, devido a divergências com um dos
co-fundadores da banda Ralf Hütter.
Ohm sweet Ohm, que ouvimos na emissão 10 do meu mundo, no
programa sobre o Lar e a Casa, é um tema cujo nome, é por si só, um trocadilho muito engraçado entre home sweet home e algo muito mais eletrónico.
O tema baseia-se num crescendo instrumental e é complementado por uma melodia muito bem conseguida, em que toda a genialidade e
inovação dos Kraftwerk, enquanto músicos, é demonstrada.
A mim, o que me
impressionou mais, foi a percurssão eletrónica, que na altura era algo que não
se ouvia. Na realidade vim a saber depois, que muito daquele som era “inventado” por Flür que, segundo rezam as histórias, era também o criador de muitos dos equipamentos de
estúdio e de palco do grupo, criados no estúdio Kling Klang (em Dusseldorf),
pertença dos Kraftwerk.
Para ouvir também ficam as obras mais emblemáticas, Autobahn, Radio-Activity,
Trans Europe Express, Man Machine e Computer World.
Carlos Lopes
Se estiverem interessados em participar neste blog podem enviar um texto sobre uma das músicas/bandas que integraram a playlist desta emissão para o.meu.mundo.ntr@gmail.com
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