A primeira vez que ouvi “I am a rock” de Simon &
Garfunkel ?
Nem sei bem! Sei que já andava perdido na guitarra, atrás dos
espantosos dedilhados que Paul Simon “inventava” para se acompanhar. Sei que já
o meu irmão me tinha oferecido um livro com as tablaturas de guitarra para os
maiores êxitos de Simon & Garfunkel. Sei que muito antes de absorver as letras,
percebê-las e interiorizá-las já os dedos conheciam as passagens todas na
guitarra, mas também sei, e tenho a certeza, que a primeira vez que a letra de “I
am a rock” me bateu…bateu forte.
Ali estava um dos meus heróis, a dizer-me que era um
rochedo, uma ilha, não precisava de ninguém, a amizade só trazia dor e
desapontamento. Eu era já um tipo que pouco se importava com a opinião dos
outros sobre mim e nada preocupado com o que vulgarmente se chamava socialmente
correto, aquelas palavras soaram quase como uma confirmação de que não estava
enganado. Foram tempos algo difíceis.
Hoje em dia, leio a letra desta música, e não posso deixar
de pensar no número de vezes que todos nós utilizámos esta técnica de irmos
dizendo “isto ou aquilo” na esperança de nos convencermos a nós próprios que é
verdade, mas sabendo desde logo que a coisa não é bem assim. Olhando agora, com
olhos de ver e afastado já da inocência
da juventude a quem tudo parece verdadeiro quando é dito pelos nossos ídolos, consigo
ver que ninguém é uma ilha, e que pelo menos penínsulas deveríamos tentar ser.
Por isso mesmo, hoje digo,” viva o istmo”, “viva aquele pedaço de terra estreita
que nos une ao resto do mundo”, e contrariamente ao Paul Simon que dizia que era
melhor não falar de amor, não ter amigos, não ter companheira, eu digo: quando
encontrarem a companhia certa, não deixem nunca de lhe dizer “Anda! Vem ser o
meu istmo”.
Do ponto de vista musical, este tema tem algumas histórias
engraçadas para contar:A primeira prende-se com o facto de Paul Simon utilizar “ROCK” na letra deste tema. Na grande maioria das vezes quando um música tem a palavra rock na letra, está associada ao tipo de música, ou ao estilo de vida dos rockeiros. Paul Simon assumia-se nesta altura como um cantor/compositor Folk, demarcando-se por isso desta associação entre a palavra e o estilo de música. Rock era mesmo apenas um rochedo.
A segunda prende-se com a história complicada da gravação
deste tema. Simon tinha-o escrito para o duo ”Chad and Jeremy” que o recusaram,
tendo sido gravado por Simon para o seu álbum a solo, uma vez que o álbum de
estreia de Simon & Garfunkel tinha sido um “flop” comercial e os dois
músicos (Paul Simon e Art Garfunkel) tinham seguido caminhos separados. No
final de 1965 o produtor Tom Wilson re-misturou o tema “The Sound Of Silence” e
a música tornou-se um enorme sucesso, “obrigando” Simon e Garfunkel a voltar a
gravar juntos. Este tema “I am a rock” foi então gravado pelo duo juntamente
com “Homeward bound” para o Lp “Sound Of Silence”
A terceira prende-se com o facto de segundo Ralph Casale, músico
de estúdio muito requisitado na altura, referir que o modo como surgiu a
guitarra elétrica de 12 cordas nesta música foi no mínimo insólito, uma vez que
para a gravação, o produtor apenas lhe disse que queria um som de guitarra do
estilo da que os “The Byrds” utilizavam nas suas músicas , deu-lhe uma folha
com os acordes da música e foi Paul Simon que lhe cantou a melodia que queria
que ele fizesse.
Carlos Lopes
Carlos Lopes
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