sábado, 11 de maio de 2019

Vem ser o meu ISTMO


A primeira vez que ouvi “I am a rock” de Simon & Garfunkel ?

Nem sei bem! Sei que já andava perdido na guitarra, atrás dos espantosos dedilhados que Paul Simon “inventava” para se acompanhar. Sei que já o meu irmão me tinha oferecido um livro com as tablaturas de guitarra para os maiores êxitos de Simon & Garfunkel. Sei que muito antes de absorver as letras, percebê-las e interiorizá-las já os dedos conheciam as passagens todas na guitarra, mas também sei, e tenho a certeza, que a primeira vez que a letra de “I am a rock” me bateu…bateu forte. 
Ali estava um dos meus heróis, a dizer-me que era um rochedo, uma ilha, não precisava de ninguém, a amizade só trazia dor e desapontamento. Eu era já um tipo que pouco se importava com a opinião dos outros sobre mim e nada preocupado com o que vulgarmente se chamava socialmente correto, aquelas palavras soaram quase como uma confirmação de que não estava enganado. Foram tempos algo difíceis.
Hoje em dia, leio a letra desta música, e não posso deixar de pensar no número de vezes que todos nós utilizámos esta técnica de irmos dizendo “isto ou aquilo” na esperança de nos convencermos a nós próprios que é verdade, mas sabendo desde logo que a coisa não é bem assim. Olhando agora, com olhos de ver  e afastado já da inocência da juventude a quem tudo parece verdadeiro quando é dito pelos nossos ídolos, consigo ver que ninguém é uma ilha, e que pelo menos penínsulas deveríamos tentar ser. Por isso mesmo, hoje digo,” viva o istmo”, “viva aquele pedaço de terra estreita que nos une ao resto do mundo”, e contrariamente ao Paul Simon que dizia que era melhor não falar de amor, não ter amigos, não ter companheira, eu digo:  quando encontrarem a companhia certa, não deixem nunca de lhe dizer “Anda! Vem ser o meu istmo”.
Do ponto de vista musical, este tema tem algumas histórias engraçadas para contar:
 A primeira prende-se com o facto de Paul Simon utilizar “ROCK” na letra deste tema. Na grande maioria das vezes quando um música tem a palavra rock na letra, está associada ao tipo de música, ou ao estilo de vida dos rockeiros. Paul Simon assumia-se nesta altura como um cantor/compositor Folk, demarcando-se por isso desta associação entre a palavra e o estilo de música. Rock era mesmo apenas um rochedo.


A segunda prende-se com a história complicada da gravação deste tema. Simon tinha-o escrito para o duo ”Chad and Jeremy” que o recusaram, tendo sido gravado por Simon para o seu álbum a solo, uma vez que o álbum de estreia de Simon & Garfunkel tinha sido um “flop” comercial e os dois músicos (Paul Simon e Art Garfunkel) tinham seguido caminhos separados. No final de 1965 o produtor Tom Wilson re-misturou o tema “The Sound Of Silence” e a música tornou-se um enorme sucesso, “obrigando” Simon e Garfunkel a voltar a gravar juntos. Este tema “I am a rock” foi então gravado pelo duo juntamente com “Homeward bound” para o Lp “Sound Of Silence”

A terceira prende-se com o facto de segundo Ralph Casale, músico de estúdio muito requisitado na altura, referir que o modo como surgiu a guitarra elétrica de 12 cordas nesta música foi no mínimo insólito, uma vez que para a gravação, o produtor apenas lhe disse que queria um som de guitarra do estilo da que os “The Byrds” utilizavam nas suas músicas , deu-lhe uma folha com os acordes da música e foi Paul Simon que lhe cantou a melodia que queria que ele fizesse. 

Carlos Lopes

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